sábado, 24 de janeiro de 2015
11. Orgânico
Orgânico
[Juliano Berko, 2011]
Vivo, pois, sou parte dos rios
De fato, eu nasci do cerrado
Hoje tenho asfalto quente sendo meu chão
Com o olhar laço as nuvens para fingir que não...
Mas nosso peito é de aço, nossas mãos são de vidro
Nossas pernas são carros, nossa voz, seu ruído
Nos abraços, há chumbo; nos beijos, silício
De passos contados, todos são seus contratos
Já pensei em fugir, construir um abrigo
Já tentei seguir um caminho sem perigo
Eu já fui cego, já fui surdo e mudo
Hoje percebo em meus sentidos o absurdo
Mas não perco mais tempo, já matei meu medo
Pois, tudo que nasce um dia há de morrer
Tento como o último suspiro
Do bicho ferido de morte
Com um corte profundo que sangra em vão
Não me faltam rabiscos na folha de rascunho
Num mundo tão grande, um pensar tão restrito?
Ódio explícito, sexo reprimido
Violentos instintos, sangue petroquímico
De tecidos sintéticos, sorrisos de plástico
Já esperei por mãos e braços amigos
Já vi darem as costas aos que mais precisam
Dizem que é assim, pois, assim sempre foi
Dizem que há o que tinha de haver
Mas se há o DNA e não há o que escolher
Eu renuncio à contradição de ser!
Luto, pois agora sei que existo
Enquanto ser social e político
Ainda que sozinho, pois, foi assim que aprendi
A andar por aí sem me perder, sem esquecer
Pois, "crescer por crescer é a filosofia do câncer"
Querer por querer o que não era pra ser
Correr por correr pelo ter sempre mais
Não sou capaz de seguir esta corrente!
Se o mundo é horrível, um espelho quebrado
Que reflete o que somos em estado mais bruto
E se for mesmo tudo produto da história
E o espaço da vida a nossa arena de luta
Será preciso lapidar a força bruta
Já que agora outro mundo é possível, há de ser
Apesar de distante, tardio amanhecer
Pois, não escolhi nascer, mas hoje eu sei que existe
No vasto horizonte algumas possibilidades
Pra ser livre de verdade, libertar a minha canção
Quando tudo o que houver vir do coração.
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